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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Entre Cordas e Tapumes

Na ultima Terça-Feira 24 de Fevereiro, terminou ,oficialmente, o Carnaval aqui em Salvador. Ao contrário do que a mídia exibe como a maior festa popular e democrática do mundo, não é bem assim na prática.A festa que outrora já foi bastante agradável, onde a família participava,hoje, só há condições de se divertir quem pode comprar um abadá ou o acesso a um camarote. E o folião chamado de "pipoca" que se exploda. E tem mais viu,trate bem o turista.

A crise mundial do final do ano de 2008 também abalou o carnaval privado. Muitos trios elétricos e artistas quase não desfilaram e outros ,realmente, não conseguiram por falta de dinheiro.As injeções de capital dos patrocinadores também não foram suficientes para bancar a infra-estrutura na terra da folia.

E com o prefeito e o governador engalfiando-se na disputa
do quem pode mais, quem sempre sai perdendo é o povo.

Todos os anos na época da confraternização, o governo do estado usa seus mecanismos para vender seu "peixe" principal da alta estação, e conseguir levantar o máximo de dinheiro, para proporcionar ao turista o conforto e a segurança na maior festa popular do planeta.Eu disse popular e não democrática se voce quer festa democrática vá para Recife.Aqui não.

Tem dinheiro?
pode sair em um bloco? não? então vá catar latinhas.Aliás, também não pode.O bloco dos catadores de latinhas fundado por cooperativas de reciclagem de alumínio, também tem sua fantasia.Uma camisa com uma mensagem sobre meio-ambiente, um par de luvas, um crachá e a querida taxa.

Xenofobias a parte , o turista está cheio de privilégios aqui.Aparece na televisão em rede nacional,os repórteres locais fazem questão de puxar o saco dizendo: Olha só quanta gente bonita no bloco ou no camarote tal? para quem é da terra e balança o corpo demais numa música empolgante, entre uma corda de bloco e um tapume de um camarote a polícia olha logo
feio.

Mas não é Carnaval? Será que só posso extravasar se estiver no meu quadrado privado? Ainda bem que Dôdo e Osmar não
estão aqui para verem isso.

A festa mostra claramente como é cadenciada a pirâmide social, dentro de um espaço público, onde o rótulo de festejo popular é banido, restando lugar apenas para a aristocracia. E é claro, o pão e o circo para hipnotizar a massa e todos acharem tudo ótimo em cima das calçadas, disputando o espaço com os vendedores de cerveja.Afinal de contas é carnaval tempo de relaxar.

Trabalho de relaxamento este, feito pelos policiais, que relaxam a borracha nas costas do pobre coitado do folião pipoca, o qual se espreme entre o seu pequeno espaço cedido pelos organizadores com sua a namorada e de repente , é surpreendido com um murro ou uma passadinha de mão na sua companheira. E ao procurar saber o que aconteceu, já recebe logo o seu prêmio da noite. Uma borrachada no lombo e curtir o resto do carnaval no xilindró.

Mas como cada povo tem o governo que merece, enquanto existir o folião pipoca sem a preocupação com o que lhe é de direito, sem questionar o porquê de um espaço tão milimétrico, de esquecer a diversão para violentar inocentes por não serem incluídos na festa, os palhaços que constituem este produto do entretenimento vão continuar ditando a regra ano após ano.

Recife e Rio de Janeiro ainda mantêm suas tradições.Mesmo com todo apêlo de agências de publicidade oportunistas oferencendo um novo modelo para se auto-promoverem, e globalizar em favor do belo rico e excluir o feio pobre.O Carnaval de Salvador já acabou faz tempo.O Sistema de blocos carnavalescos da forma com é hoje aqui, nunca foi tradição e sim imposição.O intuito da festa era divertir o povo e não uma parte dele.Como sempre pregou estes sim tradicionais; Armadinho,Dôdo e Osmar.

Mas como uma andorinha só não faz verão, quem tem dinheiro pode mais.E os artistas nacionais e internacionais merecem todo conforto para no próximo ano, voltarem e nós, meros mortais sem cérebro ficarmos assim; Você viu fulana de tal da novela das oito? estava linda não foi? e fulando de tal ? não é um gato? Será que este feitiço do imbecil coletivo não vai ser quebrado nunca?

Se você está afim de vim a Bahia para curtir o Carnaval,sinta-se à vontade, não tenho nada contra aos turistas pois sei que muitos têm parentes aqui e vêm na época, para se divertirem. Mas não pensem que é o mar-de-rosas como é vendido na mídia televisiva com os grandes artistas da axé music por que não é e nem nunca foi.

2 comentários:

Gustavo Bastos disse...

Muito bom. Essa falta de espaço depois da pontuação é que me dá uma agonia dos seiscentos. :)
Sobre o mesmo assunto, dê uma olhada em http://mateipormenos.blogspot.com/2009/02/o-carnaval-em-numeros.html

Itana disse...

Hehehe ... perfeita visão do carnaval de Salvador.
"Sorria, vc está na Bahia" ... com essa frasezinha inocente, conquistam-se turistas e foliões como se Salvador fosse um "mar-de-rosas" durante o carnaval. Uma festa insana em que pensam-se que aqui "tudo pode" ! Uma festa que tinha tudo para continuar sendo alegre, saudável, colorida e socialmente equilibrada, torna-se o cenário do comportamento e instinto da selvageria coletiva.
Uma pena !
Itana